quarta-feira, 13 de junho de 2012

GUSTAVO E FLORA (1)


Primeira parte de um conto que será publicado uma vez por semana, sempre quarta-feira.

GUSTAVO E FLORA

Gustavo era um homem de 35 anos, alto, magro, que adorava corridas matinais e só não as praticava por não conseguir correr dormindo. Quando acordou levou alguns segundos para reconhecer o próprio quarto. Estava em casa, então tudo bem. Levantou-se, resmungou contra o calor, achando que até mesmo aquela samba-canção era roupa demais. Resolveu não tira-la, caso encontrasse com Pedro enquanto zanzava pelo apartamento. Gustavo cruzou o corredor e entrou na cozinha, pegou um copo, encheu de água e bebeu tudo em um só gole, como se tivesse acabado de cruzar o Saara. Largou o copo na pia e seguiu para a sala afim de ligar a TV e catar algum jogo de futebol.
Quando estava quase saindo da cozinha, já quase acordado, ouviu o som da TV emitir vozes. Maldisse, mentalmente, Pedro, Deus, e diversas outras entidades que ele conhecia. Certamente seu amigo estava em casa, já havia acordado e ligado a TV e portanto o seu sossego e futebol haviam dançado.
Ainda brabo, Gustavo entrou na sala, viu as costas do sofá, a tela da vê, a mesinha de centro entre os dois, uma mulher sentada no sofá, o jornal caído no chão e. Espera aí, uma mulher sentada no sofá? Gustavo olhou de novo. Realmente parecia haver uma mulher sentada no sofá.
Gustavo saiu da sala silenciosamente, voltou para a cozinha, atravessou o corredor e entrou no banheiro. Parou em frente a pia, abriu a torneira e lavou o rosto. Fez o caminho de volta e, silenciosamente, entrou de novo na sala. Definitivamente era uma mulher sentada no sofá. Ele voltou para o quarto e, sem fazer barulho, fechou a porta. Pegou o celular.
     - Alô. – Pedro estava tranqüilo do outro lado da linha.
     - Oi, sou eu. – Respondeu Gustavo, colocando a mão sobre a boca.
     - Onde tu ta Gustavo? – Pedro já não estava tão tranqüilo.
     - Em casa. – Gustavo quase não movia os lábios para pronunciar as palvras.
     - E porquê tu ta sussurrando em casa, Gustavo? – Pedro agora estava confuso.
    -Tem uma mulher aqui. No sofá, vendo TV. – Gustavo pronunciou isso como se estivesse revelando a presença de um ser de outro planeta. Pedro não conseguiu conter o riso. 
     - É minha prima. Eu falei que ela ia passar uns dias aí em casa. Esqueceu?
     - Comentou é? Prima? Não lembro...
     - Eu te falei semana passada.
     - Ta, e que horas tu volta?
     - Só no fim do dia. Aliás, tu pode fazer o almoço e entreter ela enquanto eu não chego?
     - Entreter? Eu?
     - Aí Gustavo, deixa de bobagem, ela é ótima, super divertida, tu vai adorar ela.
     Fazia anos que as pessoas apresentavam para Gustavo mulher ótimas, super divertidas e que ele iria adorar. Era bem cansativo.
      - Então ta, tenho que desligar. Bom almoço pra vocês. Beijos.
     Pedro desligou e Gustavo decidiu resignar-se. Uns dias? Será que Pedro tinha dito “uns dias”? Ou ele que tinha tido um leve surto? Bom, descobriria depois, agora Gustavo tinha que voltar para a sala e estabelecer contato com o ser do sofá.

2 comentários:

  1. Excelente.

    Amo o jeito redondo com que tu escreve, tudo fluindo tão bem que nem noto que estou lendo, parece que estou lá junto.

    ainda bem que eu não preciso esperar até quarta pra ler o que vai acontecer... hehehe

    tu é o melhor.
    teamo.

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