segunda-feira, 18 de junho de 2012

SOLUÇÕES INFANTIS


Quando éramos crianças, o Bruno Morelli e eu fantasiávamos campeonatos de futebol na casa dos meus pais. Éramos do mesmo time enfrentando times imaginários, mas éramos honestos, uma posse de bola para nós, outra para o adversário. Nós, inclusive, perdíamos jogos e quase ficávamos de fora do campeonato. Porém nossa honestidade ainda não era completa, então criávamos no regulamento alguma desculpa estapafúrdia, ganhávamos um ponto extra e passávamos de fase.
Já nesse tempo nós dois acompanhávamos a seleção italiana com grande admiração. Não é uma questão de descendência, e sim de estilo de futebol, gostamos do futebol italiano, da defesa segura, da ideia clara de que bonito é troféu na estante. E aprendemos, ao longo dos anos, a sobreviver a Itália e suas italianizes futebolísticas.
Eu, inclusive, desenvolvi a teoria de que, na Itália, eles só contam título se no mínimo dez por cento dos torcedores tiverem infartado durante o campeonato. Pra que ganhar da Croácia e chegar na última rodada dependendo só de uma vitória contra a Irlanda, é muito mais emocionante empatar e ter que torcer por resultados paralelos. E o regulamento da Euro ajuda muito a aumentar essa dramaticidade.
O primeiro critério de desempate da Euro ainda é o confronto direto, então, se três times empatarem, ignorasse os resultados contra o quarto time, já eliminado, e cria-se uma tabela só com os resultados entre os outros três. Não faz nenhum sentido e até a FIFA já mudou isso, mas quem acha que é difícil a FIFA mudar alguma coisa precisa saber que a UEFA é o setor conservador da FIFA.
Eu sempre defendo que o craque, em qualquer esporte coletivo, é muito mais do que alguém com qualidade muito acima da média. Claro que isso é fundamental, porém a principal característica do craque, o que o diferencia do grande jogador, é o momento em que brilha. O craque pode jogar muito em um amistoso contra um adversário fraco, ótimo, mas o time não precisa dele nesse jogo. Para ser craque é necessário brilhar no jogo decisivo, contra o adversário mais forte, o jogo em que o resto do time não consegue dar conta.
Portugal perdeu o primeiro jogo da Euro para a Alemanha, Cristiano Ronaldo não foi muito bem. No segundo jogo, contra a Dinamarca, Ronaldo perdeu dois gols “feitos”, Portugal, que é melhor que a Dinamarca, venceu o jogo. Ontem Portugal enfrentou a Holanda, venceu por 2x1, de virada, e se classificou. Cristiano Ronaldo fez os dois gols da seleção portuguesa, comprovando, mais uma vez, que é craque, que quando o time precisa pode contar com ele.
O Bruno e eu ficaremos esperando que hoje apareça algum craque na seleção italiana. Parece que a melhor aposta é o Pirlo, de bengala e tudo, mas acho que o Marchisio também está no páreo. Ou a UEFA pode decidir dar um ponto extra pra Itália, por ser a única tetra campeã mundial na competição... Eu faria isso, se ainda fosse criança.

Um comentário:

  1. No fim não precisou de soluções infantis para tua Itália passar de fase, passou pelos próprios méritos.

    Amei o texto. Muito.

    ResponderExcluir