Quando éramos crianças, o Bruno Morelli e eu fantasiávamos campeonatos de
futebol na casa dos meus pais. Éramos do mesmo time enfrentando times
imaginários, mas éramos honestos, uma posse de bola para nós, outra para o
adversário. Nós, inclusive, perdíamos jogos e quase ficávamos de fora do
campeonato. Porém nossa honestidade ainda não era completa, então criávamos no
regulamento alguma desculpa estapafúrdia, ganhávamos um ponto extra e passávamos
de fase.
Já nesse tempo nós dois acompanhávamos a seleção italiana com grande
admiração. Não é uma questão de descendência, e sim de estilo de futebol,
gostamos do futebol italiano, da defesa segura, da ideia clara de que bonito é
troféu na estante. E aprendemos, ao longo dos anos, a sobreviver a Itália e
suas italianizes futebolísticas.
Eu, inclusive, desenvolvi a teoria de que, na Itália, eles só contam
título se no mínimo dez por cento dos torcedores tiverem infartado durante o
campeonato. Pra que ganhar da Croácia e chegar na última rodada dependendo só
de uma vitória contra a Irlanda, é muito mais emocionante empatar e ter que
torcer por resultados paralelos. E o regulamento da Euro ajuda muito a aumentar
essa dramaticidade.
O primeiro critério de desempate da Euro ainda é o confronto direto,
então, se três times empatarem, ignorasse os resultados contra o quarto time,
já eliminado, e cria-se uma tabela só com os resultados entre os outros três.
Não faz nenhum sentido e até a FIFA já mudou isso, mas quem acha que é difícil
a FIFA mudar alguma coisa precisa saber que a UEFA é o setor conservador da
FIFA.
Eu sempre defendo que o craque, em qualquer esporte coletivo, é muito
mais do que alguém com qualidade muito acima da média. Claro que isso é
fundamental, porém a principal característica do craque, o que o diferencia do
grande jogador, é o momento em que brilha. O craque pode jogar muito em um
amistoso contra um adversário fraco, ótimo, mas o time não precisa dele nesse jogo.
Para ser craque é necessário brilhar no jogo decisivo, contra o adversário mais
forte, o jogo em que o resto do time não consegue dar conta.
Portugal perdeu o primeiro jogo da Euro para a Alemanha, Cristiano
Ronaldo não foi muito bem. No segundo jogo, contra a Dinamarca, Ronaldo perdeu
dois gols “feitos”, Portugal, que é melhor que a Dinamarca, venceu o jogo.
Ontem Portugal enfrentou a Holanda, venceu por 2x1, de virada, e se
classificou. Cristiano Ronaldo fez os dois gols da seleção portuguesa,
comprovando, mais uma vez, que é craque, que quando o time precisa pode contar
com ele.
O Bruno e eu ficaremos esperando que hoje apareça algum craque na seleção
italiana. Parece que a melhor aposta é o Pirlo, de bengala e tudo, mas acho que
o Marchisio também está no páreo. Ou a UEFA pode decidir dar um ponto extra pra
Itália, por ser a única tetra campeã mundial na competição... Eu faria isso, se
ainda fosse criança.
No fim não precisou de soluções infantis para tua Itália passar de fase, passou pelos próprios méritos.
ResponderExcluirAmei o texto. Muito.