Rogério chegou
na casa de Cristina decidido a se declarar, sem saber que ela, após seis anos,
tinha cansado de esperar e estava namorando. Por isso quando entrou na sala,
vestindo calça jeans e chinelo, Gustavo encontrou Flora chorando no sofá. Foi a
primeira vez que ele teve um retorno sincero e imparcial sobre seu trabalho, a
primeira vez que ele pode ver a reação de alguém que não sabia que ele era o
autor.
- É maratona? – Gustavo perguntou mais para anunciar sua
chegada do que por interesse.
- Sim – Flora respondeu secando as lágrimas. – Esse é o
final da sexta
temporada
- Tu come massa?
- Claro.
- E queijo?
- Também.
- Tá.
Gustavo foi
para a cozinha desejando poder apagar o diálogo e dizer algo mais inteligente, porém
mudou o foco de suas preocupações quando constatou que não tinha massa em casa.
Isso era de se esperar, já que Gustavo e Pedro dividiam a tarefa do super em
uma semana para cada um, e aquela tinha sido a semana de Gustavo, que só
decoraria listas de super se fossem poemas.
Quando chegou
ao lado do sofá, Gustavo viu Flora passar a mão nos cabelos castanhos e
jogá-los para o lado. Saiu do transe após dois segundos, explicou que o almoço
ainda demoraria um pouco, e foi surpreendido quando Flora disse que ele podia
relaxar, pois Pedro havia deixado um número de tele-entrega e ela pedira uma
pizza. Gustavo achou ótimo não precisar exibir os seus dotes culinários e poder
sentar no sofá ao lado de Flora, que também achou muito bom.
Flora era
arquiteta, fez mestrado em Paris, conheceu diversos países na Europa e nas
Américas, dedicava parte de seu tempo para desenvolver projetos arquitetônicos
de baixo custo para melhorar a vida de pessoas carentes e era colorada. Gustavo
era fluente em Inglês, Francês, Italiano e Espanhol, e sabia algumas palavras
em Mandarim, por causa de um prêmio que foi receber na China. Tocava piano,
violino, tamborim e violão. Só tinha saído do país para receber prêmios e
ficava profundamente irritado quando isso o fazia perder um jogo do Grêmio.
Gustavo tinha
mãos e pés grandes, pernas fortes, lábios pequenos, e o sorriso mais sincero e
acolhedor que Flora já havia visto. Ele era inteligente, divertido, gentil,
culto, e nem um pouco arrogante. Seu olhar era direto, penetrante, atento e
focado apenas nos olhos de Flora enquanto ela falava. Flora tinha braços
delicados, dedos longos nas mãos, pés pequenos, lábios demoníacos e uma
pequena, porém impossível de Gustavo ignorar, tatuagem no pescoço. Seu eclético
gosto cultural abrangia do popular ao erudito, tinha conhecimento para falar
sobre qualquer assunto e a doçura de uma mulher, que é muito mais bela que a
ingenuidade de uma “menina”.
Quando o
silêncio postou-se no pouco espaço que ainda havia entre eles, incertos, os
dois rostos aproximaram-se com a vagarosidade do receio de estar confundindo as
coisas. Narizes se encaixaram, mãos encostaram em queixos, polegares deslizaram
por lábios, palmas passaram por orelhas e dedos pressionaram nucas. Um podia
sentir nos lábios o calor que escapava da boca entreaberta do outro, depois não
podia mais, as bocas se encostaram levemente e o interfone tocou.
Maldito interfone!
ResponderExcluirAmei.
Tu ainda vai ser meu amigo quando for famoso???
ResponderExcluirO 4! Cade o 4?! rsrs
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