quinta-feira, 14 de abril de 2016

KOBE BRYLLIANT

Passei os últimos três anos vendo uma sombra. Uma sombra com um joelho que já não ajudava, com um braço que ficou mais “curto”, com um ombro que sentia o peso do tempo. O que vagava pelas quadras, com lampejos de genialidade, era quase um espectro que carregava o rosto que havia pertencido a um grande gênio.
As estrelas, quando começam a ficar sem combustível, vão se apagando, até que, em um último espetáculo, explodem em uma supernova extremamente brilhante. Kobe foi uma estrela de primeira grandeza e como tal, fez de sua última apresentação um espetáculo de brilho intenso. Despediu-se seguindo o roteiro que praticou por tantos anos e fez ressurgir na memória de todos a noção exata do que era um jogo de Kobe Bryant.
Em um ginásio lotado de fãs e amigos, Kobe deu início ao seu ato final, arremessava muito e a cada ponto o ginásio vibrava como se fosse o último. Foram muitos últimos pontos. Ainda assim o fraquíssimo time do Lakers permanecia atrás no placar. Uma derrota já esperada, mais uma entre tantas que vieram esse ano. Não importava, aquela noite era sobre se despedir e agradecer a Kobe. Shaquille O’Neal, que foi amigo, virou desafeto e voltou a ser amigo de Bryant, havia pedido 50 pontos. Uma brincadeira, é claro. O recorde de um jogador na temporada que estava terminando era 59, o de Kobe então, 38. O segundo quarto de partida terminou com o Utah Jazz vencendo por uma margem relativamente confortável. Mas sequer vou dizer o placar exato, nem lembro, não tem importância nenhuma.
O importante é que o ginásio continuava vibrando, pois os últimos pontos continuavam se acumulando, os 38 de melhor marca da temporada foram ficando perto, o público foi se animando, a marca foi superada, e então era questão de fazer um jogo de 40 pontos. Feitos os quarenta pontos. O Lakers mantinha-se perto do placar, o cronômetro encaminhava-se para perto do fim e Kobe, como manda a cartilha, começou a fazer ainda mais. Um furor começa nas arquibancadas com a proximidade de mais um jogo de 50 pontos, pedido de amigo é pedido atendido. 51 na conta do Black Mamba, e contando.
Nos últimos segundos de jogo o Lakers perde por apenas um ponto, Kobe tem 56 e no ginásio e em frente às TVs, todos desaprenderam a sentar. Bola na mão dele, só um na marcação e uma cena vista inúmeras vezes. Kobe Bryant fez o que Kobe Bryant sempre fez, dia após dia, nos últimos 20 anos. O arremesso decisivo é certeiro como uma flecha élfica e põe o Lakers em vantagem pela primeira vez no jogo. Ainda viriam mais dois pontos, para selar a vitória, para chegar em 60, para ficar com a melhor marca da temporada.
Kobe presenteou o mundo com uma supernova apoteótica, inesquecível, mais um apresentação de gala, uma última recordação magnífica para os que juntaram tantas ao longo desses vinte anos.

O gênio derrotou o espectro, recuperou seu rosto e se reapresentou “Prazer, eu sou Kobe Bryant”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário