Km 817. O destino, marcado assim no GPS, diz
apenas que a estrada é longa. Não é através da voz robótica que descobrimos o
grande, e ainda crescente, número de carros que trafegam por essas curvas
sinuosas, desviando de buracos e cercados por um paredão de pedras que podem
cair a qualquer momento e um penhasco onde o carro pode despencar feito uma
pedra. É, a estrada é mal cuidada, fruto do pouco uso, muitos nem sabiam que
existia. Esse fluxo mais intenso é recente.
A viagem só é possível graças a pessoas que
tentam, diariamente, melhorar as condições, tirando o mato, melhorando a
sinalização, etc. Algumas dessas pessoas estão organizadas em grupos, o que
ajuda na manutenção de uma parte maior da estrada. O “Chega de Fiu-Fiu” é um
desses grupos, vem melhorando a sinalização ao longo da estrada e,
principalmente nas outras estradas, facilitando o acesso da população. Fico no
carona, mexo no som, alcanço uma água para a motorista, mas em momento algum
assumo a direção. É ela que precisa se manter atenta à estrada o tempo inteiro,
manter as mãos no volante, pisar nos pedais. Esse desgaste não é, nunca foi, e
não será meu.
Sou apenas um passageiro, fico sinceramente
constrangido de cansar antes de quem dirige. Abaixo o meu vidro e encaro as
ameaçadoras pedras, me certificando que nenhuma está vindo ao nosso encontro.
Sinto os primeiros pingos da chuva que nuvens e ventos vinham anunciando e eu
teimava em duvidar que viria, fecho os vidros e torço para que acabe logo. O
pensamento de acabar logo me leva a concluir que já devemos estar na metade do
caminho, afinal andamos bastante. Volto a olhar a estrada, o limpador de
parabrisa dança freneticamente, melhorando a visão da motorista. Eu, que sou um
passageiro, me distraio por um momento com os pingos que correm pelos cantos
onde as hastes de silicone não chegam. Jair Bolsonaro é uma placa antiga onde
leio: Km 11.
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